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Poema

Franklin Mano

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Hoje eu me apeguei a qualquer pedaço de lembrança,
Qualquer coisa louca, nua e crua que aconteceu há horas, dias, meses atrás.

Hoje eu te vi no espelho, na madeira, na parede, no azulejo,
Vi mais uma vez o seu sorriso desfilando pela sala,
E o incenso do teu cheiro está por todo o lugar, ficou em mim,
Nos cantos e recantos da cama e a da casa.

Hoje eu gritei de amor e medo,
Afogado de lembranças,
Mendigando um carinho, um beijo, um abraço,

E lagrimas foram o que ficou o que restou aqui
Dentro de mim num buraco negro sem fim
Cheio de lembranças revivendo no presente e futuro o passado.

O teu rio no meu mar desaguando,
Em cada gota destilava minha solidão,
Aquela magoa insana e abafada...
Que está aqui dentro e já faz um tempo.

E de repente senti-i alguma coisa tua e estranha que ficou em mim,
E no escuro disso tudo fui iluminado pelos teus faróis florescentes,
Cor de oceano verde calmo e claro.

Essa miragem e ilusão misturada com o meu delírio é solidão,
Da fraqueza de um homem totalmente humano,
Cheio de vícios e falhas...

E alguma coisa linda, pura, ninfa e fada sua ficou em mim,
Nos fios de cabelo, nos pêlos do corpo e da cara,

E apesar de estar vivo como um corte exposto
Esculpido com a ponta da faca no olho da alma,

Dói por esta longe, por ter se resumido,
Essa coisa infinita e nobre entre a gente teve um fim,

E por isso me sinto vazio com os pensamentos fugazes,
E o espírito incendiado, entorpecido pelo calor da chama,

Pelo chão e por cima do meu corpo ainda cato,
Migalhas, raspas, restos e saliva
Dessa coisa insana, mágica e louca...
Que aconteceu há horas, dias, meses atrás.

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