Letras Web

Do Pobre B.B.

Jorge Palma

7 acessos

Eu, Bertold Brecht, sou das negras florestas
Minha mãe resolveu pelas cidades andar
Comigo no ventre e o frio das florestas
Até à morte me há-de acompanhar

A minha casa é a cidade do asfalto
Desde o início apetrechado com os sacramentos da morte
Com jornais. E tabaco. E aguardente
Desconfiado, sorna, e no fim com sorte

Sou amável com as pessoas
Até ponho chapéu de côco, como elas gostam de usar
Digo: têm um cheiro especial estes bichos
E digo: não faz mal, o meu não é melhor

Nas minhas cadeiras de baloiço, de manhã,
Às vezes um bando de mulheres faço sentar
E olho para elas descuidado e digo:
Com este aqui não podem vocês contar

À noitinha reuno homens à minha volta
Por "gentlemen" nos vamos tratando
Eles põem os pés nas minhas mesas
E dizem: vamos melhorar... e eu nem pergunto: quando?

Cedinho ainda, no pardo amanhecer, os abetos mijam
E a passarada, os seus parasitas, começa a gritar
A essa hora bebo um último copo na cidade
E deito fora a beata e, inquieto, vou-me deitar...

Fomos vivendo, nós, leviana geração
Em casas tidas por indestrutíveis
(Assim construímos os altos caixotes da ilha de Manhattan
E, para divertir o atlântico, as antenas flexíveis)

Destas cidades ficará o que as atravessou: o vento!
A casa alegra quem come... e a esvazia
Sabemos que somos meros transeuntes
O que depois virá é de pouca valia

Nos terramotos que aí vêm, espero,
Não vou deixar apagar o meu virgínia amargurado
Eu, Bertold Brecht, filho das negras florestas p'rás cidades de asfalto,
E, em tempos no ventre de minha mãe, p'ra aí lançado

Top Letras de Jorge Palma

  1. Jeremias O Fora Da Lei
  2. Lobo Malvado
  3. Olá (Cá estamos Nós Outra Vez)
  4. A Colherzinha
  5. Cara d'Anjo Mau
  6. Disse Fêmea
  7. A Gente Vai Continuar
  8. Gaivota Dos Alteirinhos
  9. Valsa de um homem carente
  10. Demónios Interiores