Letras Web

Seu Esmilindro

Jayme Caetano Braun

104 acessos

Aquele ali, se esquentando,
Que parece estar dormindo,
É o velho "seu" Esmilindro
Que ao pé do fogo se esconde,
Quando lhe falam, responde,
Mas senão, vive calado,
Olhar triste, entrecerrado
Perdido, não sei onde!

É desses índios de estância
Que ninguém conhece o drama.
Tem só os arreios da cama
E um poncho velho que o cobre.
E embora nunca se dobre,
Nem ao guascaço mais duro,
Pouco lhe importa o futuro,
Pois já nasceu pra ser pobre!

Conhece de tudo um pouco,
Trança, laça e gineteia
Não fala da vida alheia
Nem se mete em discussão
E já ao primeiro clarão,
A estrela d'alva saindo
Encontra o velho Esmilindro
De pé, batendo tição!

É quem recolhe os cavalos
Bem antes que o dia venha,
Puxa água e corta lenha
Pra as chinocas da cozinha.
É quem cuida de galinha
E dá quirera pra pinto.
Sabe tudo por instinto

E o que não sabe, adivinha!
Surgiu um dia na estância
Ao tanco dum baio-ruano
E ficou. Passou-se um ano,
Foi ficando, até ficar...
E ao fim de tanto penar
Só tem, além da ossamenta,
Esse fogo onde se esquenta
E esse galpão que é o seu lar.

A ninguém diz de onde veio
Nem tampouco pra onde vai.
Não tem mão, nem teve pai
Que lhe acolherasse um nome
E à medida que se some
No tremendal da amargura
Vai vendo que sem ternura
As almas morrem de fome.

Por isso é que ao pé do fogo
Cabisbaixo e silencioso
Vive a pensar no repouso
Da cruz do campo, sozinha,
Quando ali de tardezinha
O vento for repetindo:
Dorme aqui um tal de Esmilindro
Que nem sobrenome tinha!

Top Letras de Jayme Caetano Braun

  1. Bochincho
  2. Do Tempo
  3. Mateando
  4. Cemitério de Campanha
  5. Remorsos de Castrador
  6. Galo de Rinha
  7. Chimarrão e poesia
  8. Tio Anastácio
  9. Natal Galponeiro
  10. Cusco Baio