Letras Web

De qualquer maneira

Noel Rosa

14 acessos

Quem tudo olha quase nada enxerga
Quem não quebra se enverga
A favor do vento
Eu não sou perfeito
Sei que tenho de pecar
Mas arranjo sempre um jeito
De me desculpar

Eu lá na Penha agora vou estifa¹
Mas não vou como um cafifa²
Quem foi lá desacatar
Mas a força falha
Ele teve um triste fim
Agredido a navalha
Na porta de um botequim

Pra ver a minha santa padroeira
Eu vou à Penha
De qualquer maneira...

Faz hoje um mês que fui naquele morro
E a Juju pediu socorro
Lá da ribanceira
Toda machucada
Saturada de pancada
Que apanhou do seu mulato
Por contar boato

Meu coração bateu a toda pressa
E eu fiz uma promessa
Pra mulata não morrer...
Pela padroeira
Ela foi bem contemplada
Levantou do chão curada
Saiu sambando fagueira

Eu vou à Penha de qualquer maneira
Pois não é por brincadeira
Que se faz promessa
E o tal mulado
Para não entrar na lenha
Fez comigo um contrato
Pra sumir da Penha

Quem faz acordo não tem inimigo
A mulata vai comigo
Carregando o violão
E com devoção
Junto à santa milagrosa
Vai cantar meu samba prosa
Numa primeira audição


¹ Gíria da época: alinhado, bem-vestido.
² Gíria da época: sujeito sem sorte.

Top Letras de Noel Rosa

  1. Com Que Roupa?
  2. Conversa de Botequim
  3. Filosofia
  4. Até Amanhã
  5. Último Desejo
  6. Feitiço da Vila
  7. Onde Está a Honestidade?
  8. Fita Amarela
  9. Palpite Infeliz
  10. Mulher Indigesta