50 acessos
Eu moro bem lá no mato, não tem nem som de vitrola,
Lá eu vivo sossegado, não tem ninguém que me amola.
O meu vizinho mais perto é uma tribo de corola,
É ouvir meus passarinhos, cantam fora da gaiola.
Ainda sou pedra bruta, eu sou um caboclo pachola.
Sou feliz vivendo assim eu, meu Deus e a viola.
De manhã vou pro serviço, a preguiça não me assola;
Preparo minha marmita e ponho numa sacola.
Chego até queimar a mão no cabo da caçarola!
Escuto o galo cantando no galho da carambola.
E no terreiro o barulho do “tô fraco” das angolas;
Sou feliz vivendo assim eu, meu Deus e a viola.
Eu faço do tempo o tempo, a natureza é uma escola.
Eu bebo as minhas pinguinhas e a pressão não descontrola.
Quem canta seu mal espanta e tira a tristeza de sola.
Até escrevo uns versinhos, quando me vem na cachola.
Se tenho aborrecimento a viola me consola;
Sou feliz vivendo assim, eu, meu Deus e a viola.
Tem porquinhos no chiqueiro, redondinhos que nem bola.
Tem fatura no terreiro, nunca precisei de esmola.
Peitoral do puro sangue é de ouro e prata quinze argolas,
Com pedrinhas de brilhante num capricho que extrapola.
Tô com tudo e mais um pouco a miséria lá não rola
Sou feliz vivendo assim eu, meu Deus e a viola.